Da nobre arte de perdoar

"Perdoa-os, eles não sabem o que fazem..."
Jesus

Todos os dias somos desafiados a exercitar este nobre e difícil sentimento que é o perdão. Não poderíamos afirmar que o desafio nasce por causa dos outros, daqueles que nos causam problemas. É necessário sempre nos colocarmos como participantes da trama ou do drama, não como simples vítimas, como sempre acontece.

Na verdade, os problemas com que nos defrontamos todos os dias, poderiam, pelo menos em grande parte, não existir se fôssemos mais sensatos, lúcidos ou prudentes. A verdade é que somos um tanto impulsivos, arrebatados e pouco racionais em nossas ações. Depois quando nos acontece algo, fruto direto das nossa inconseqüências, procuramos de imediato um culpado. O outro, é óbvio. E, comodamente, nos colocamos no papel de vítimas. O outro é cruel, desumano, calculista. Nesses momentos esquecemos completamente de como tudo começou. Procuramos esquecer a nossa participação nos fatos. Bem, se algo acontece nessas circunstâncias, perdoar o outro é mero dever, uma simples obrigação, já que somos também culpados, pois causamos originariamente o problema... É claro que há circunstâncias em que somos mesmo as vítimas e não participamos de forma alguma do início da trama.

Aqui é que começa o verdadeiro exercício do perdão, que é um sentimento desafiador, próprio das pessoas que já conquistaram alguma força moral. Os fracos procuram vingar-se por qualquer motivo. Os fortes se posicionam acima das circunstâncias e das pessoas e deixam passar. No filme "A Lista de Schindler", há um trecho de grande beleza sobre o tema. O trecho é aquele em que o protagonista tenta convencer o sanguinário oficial nazista a perdoar as suas tantas e inocentes vítimas. Lembra ao mesmo que, quando um pobre condenado era conduzido à presença de um imperador romano, ele tinha noção de que estava irremediavelmente condenado. No entanto, num ato de derradeira esperança, ele se jogava ao chão e pedia clemência. O imperador, então, num gestão de grandeza lhe poupava a vida. O oficial tentou exercitar este perdão, com toda pompa, à maneira de um imperador, porém não tinha grandeza moral para tanto.

Da mesma forma, pode ser que a nossa força moral não esteja à altura da grandeza do gesto, da ação de perdoar. Como tudo na vida, perdoar também se aprende exercitando-se. Sem exercícios não se aprende verdadeiramente nenhuma lição. As possibilidades de exercício deste sentimento são infinitas, pois a cada hora somos testados, postos a prova. Os desafios ao perdão surgirão de todos os lados. Tentarão nos aborrecer, nos enganar, nos passar a perna nos negócios, nos roubar a paciência, o tempo (tão escassos!), etc. Sem contar com aquelas pessoas que nos tem como inimigos gratuitamente, sem que lhes façamos nada... Se estivermos, no entanto, inclinados à desforra ou a vingança, sempre será tempo de lembrar de uma frase atribuída a Sidarta Gautama, o Buda: "Sê como o sândalo que perfuma o machado que o fere".

 

Abel Sidney

 

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